#dicadelivros: QUEM EU?
Um homem com um olhar diferente para uma doença que tem como histórico ser triste.
Fernando Aguzzoli, o neto da Dona Nilva, encarou o Alzheimer como uma aventura a ser vivida com bom humor.
Escreveu um livro, que a princípio não seria lançado, pois era apenas um livro para homenagear sua avó que sempre gostou de ler e como ele mesmo disse ” que legal seria terminar a vida com um livro.” Infelizmente a vovó Nilva faleceu antes do livro terminar de ser escrito.
O livro Quem, eu?, foi lançado a pedido de um amigo médico, em homenagem a todas as vovós.
Desde então, Fernando vem palestrando por todo país, contando sua história vivida ao lado da sua avó que foi diagnosticada com Alzheimer.
Em uma de suas palestras fomos ao seu encontro para bater um papo e poder trazer a vocês um pouco dessa linda história de amizade de um neto com uma avó.
Amizade essa que dava ao Fernando a liberdade de muitas vezes dizer ” Vai te catar vó."
Limonnadas – Como foi a descoberta da doença? Seu primeiro sentimento?
Fernando – A descoberta foi acidental, não estávamos esperando por isso, estávamos atrás de outra coisa e descobrimos o Alzheimer. Me senti perdido, não sabia o que era o Alzheimer , fui a internet saber o que era, e tudo era muito negativo, me assustei e descobri que a doença tinha estágios e ia muito além dos esquecimentos e que não tinha uma cura.
Limonnadas – Como foi a decisão de encarar o alzheimer de forma diferente de tudo aquilo que tu havia lido?
Fernando – Tem uma frase que eu uso na palestra ” Quem tem um porque enfrenta qualquer como”, eu não sabia como atravessar o alzheimer mas eu tinha um porque muito grande que era o sentimento que eu tinha pela minha avó, então eu enfrentaria todos os comos que fossem surgindo, como o esquecimento, a raiva, a desorientação… claro que foi difícil, na teoria parece mais fácil.
Limonnadas – Você encarou a doença com bom humor? Onde buscava força para o novo dia e para ser dessa forma humorada?
Fernando – Na verdade nunca tive distanciamento da minha avó, éramos muito amigos, éramos debochados, isso facilitou bastante, para que eu tivesse a liberdade de dizer ” vai te catar vó” quando ela me perguntava muitas vezes a mesma coisa, e a reação dela me fazia rir, como as vezes a minha reação a fazia rir. Então a gente tinha uma troca. Os idosos com alzheimer, ou eles aguçam suas características ou eles mudam completamente, a minha vó mudou bastante, ela era muito bem humorada com Alzheimer.
Limonnadas – Tu transformou isso numa grande aventura pra vocês.
Fernando – Com certeza, me condicionei a encontrar os aspectos positivos da doença.
Limonnadas – Então transformou numa aventura gostosa pra ela!
Fernando – Espero que sim!
Limonnadas – Como foi a transição de neto para pai?
Fernando- Não sei ao certo quando aconteceu, mas o dia que me dei conta, estava sentado na cama guardando o sono dela, como eu digo e eu me lembrei das vezes que ela me levava ao shopping de mãos dadas e vi que hoje eu fazia isso com ela. Me vi como pai uma noite. Também nunca deixei de ser neto, tivemos vários papéis nessa aventura.
Limonnadas – Teve medo neste processo?
Fernando – Muito medo, muito medo de ser esquecido, até o momento em que ela me esqueceu e ela me mostrou que o meu medo não era tão importante assim, porque ela jamais me esqueceria para sempre, mas ela me esqueceria várias vezes. Acho que quem mais me ensinou a lidar com a doença foi a minha avó, não foi nenhum livro, nenhum site. Assim como eu acredito e eu tento passar nas minhas palestras, para que as pessoas tenham um olhar mais sensível para o idoso, se posso dar um conselho é observem mais, pois é ele que vai te ensinar a lidar com a doença.
Limonnadas – O que a palavra Alzheimer significa hoje?
Fernando – Pode ser irônico, mas para mim o Alzheimer é inesquecível.
Limonnadas – Você se dedicou exclusivamente a sua vó durante anos. Quando ela partiu, ficou um vazio? Como você lidou com isso?
Fernando – Existiu um vazio do dia-a-dia, pois eu acordava e fazia o leitinho dela e tudo o mais. Mas eu fiz tudo que estava ao meu alcance e eu tinha a consciência totalmente tranquila, isso facilitou para que eu me sentisse realizado mesmo na ausência da minha vó. Eu acabei multiplicando ela, não encaro como se ela tivesse morrido. Tem uma frase que diz, ” se você quer viver para sempre deixe que alguém escreva a sua história”
A Dona Nilva adorava viajar e não pode viajar muitas vezes. Hoje muitas pessoas levam o livro Quem, eu? junto em suas viagens e fotografam com ele. Querendo ou não, Dona Nilva está conhecendo o mundo.
Fernando largou a faculdade e a sua empresa para cuidar e se dedicar a sua avó.
Como ele mesmo diz "larguei aquilo que um dia eu poderia ter de volta”.
Querendo conhecer um pouco mais dessa história, adquira o livro que é maravilhoso e também curtam a fanpage que o Fernando fez para dividir com todos, os momentos vividos com sua avó. Anote aí: https://www.facebook.com/vovonilva/?fref=ts .
